O que se sabe é aquilo que é aprendido

Eu não dirijo.
Antes que você me julgue ou pense nas inúmeras perdas de liberdade que esse fato me causa, saiba que eu vivo assim pensando em você, querido leitor, que não merece me ter como parceira de trânsito. Dito isso, em eras menos abastadas da minha vida (todas), com táxis e Ubers fora do meu alcance, eu sempre fui usuária assídua do transporte público, em específico do metrô. E como boa ex paulistana que sou, foi impossível não reparar a diferença brutal de comportamento das pessoas cariocas dentro das estações e vagões.
Antes que você me ache ridícula, entenda que ao questionar namorado, amigos e colegas de trabalho do porquê não deixar a esquerda livre na escada rolante, por exemplo, absolutamente todos me responderam da mesma forma: o carioca não tem educação.
Pois bem. Eu entendo o que meus amigos querem dizer. Eles não estão falando do ato de serem educados para agirem de certa forma, eles estão falando que o carioca é inerentemente mal-educado, e que no fundo conhece as regras, mas se recusa a respeitá-las.
Mas sabe mesmo?
Nessa onda de “todo mundo sabe tudo” que vivemos hoje, eu me peguei pensando nisso após ler a reportagem A Arte da Gentileza, da revista Piauí de janeiro de 2025. Qualquer amante de arte e design gráfico precisa ler essa singela reportagem, que expõe os posters de boas maneiras que viraram tradição nos trens e metrôs japoneses. Pra você ter uma ideia, os primeiros posters datam do começo do século XX! Neles havia pedidos para que os passageiros não esquecessem seus pertences, não debruçassem nas janelas dos vagões e evitassem passagem pelas estações em horário de pico. Novamente, estamos falando de 1926.
Enquanto lia, lembro bem que era muito comum me deslocar do centro, onde minha família mora, à Liberdade (meu bairro favorito em SP) de metrô, e tirar inúmeras fotos dos posters das estações com instruções coloridas, divertidas e com ótima identidade visual. Algo que chama atenção, ainda mais quando misturado em um mar de marketing, e pensar, isso é muito interessante, mesmo que você não preste atenção, você está absorvendo estas mensagens. Claro, ser atropelada na escada rolante por alguém correndo pra pegar a baldeação também é uma lição que se aprende uma vez, pra nunca mais.
E voltei pra minha questão carioca, e esse jeito do próprio carioca de se enxergar, como um ser que subverte as regras, e fala até com certo orgulho disso.
Não é real.
O carioca não conhece a regra. E nem é regra a palavra aqui, são as convenções sociais que locais com maior fluxo de pessoas criaram para otimizar a passagem e diminuir os atravancos comuns que ocorrem entre muitas pessoas em espaços pequenos, e isso precisa de manutenção constante, não apenas um lembrete para usuários antigos, mas um alerta e educação para usuários novos. E em qualquer estação carioca não há uma sinalização sequer que indique as melhores práticas pra impedir passagem de quem está com pressa, pra não haver os esbarrões tão comuns, entre quem está saindo e quem quer entrar no vagão, não há nada que otimize ou melhore a interação dentro daquele espaço público. Não há posters interessantes, não há placas ignorantes, apenas um grande nada. E se espera que uma população inteira adivinhe sozinha qual a melhor forma de fazer aquilo ali funcionar melhor, a culpabilizando quando isso não acontece.Será que isso não extrapola pra fora das estações do metrô?
Fica aí a reflexão.
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